quarta-feira, 25 de março de 2015

Curitiba amplia testes com veículos elétricos

Conhecida pela atenção dispensada ao meio ambiente, Curitiba chegou a ser reconhecida internacionalmente como “capital ecológica”. Hoje esse título talvez não seja mais unânime, mas é certo que a cidade ainda é referência na adoção de ações sustentáveis.

No segmento automobilístico, destaque para testes com veículos elétricos. Em março deste ano começaram a circular dois táxis movidos a eletricidade. Os veículos serão utilizados, em forma de rodízio, por sete centrais de radiotáxi até o fim de maio. A proposta é analisar a viabilidade econômica e ambiental dessa iniciativa.

Se for aprovada tecnicamente, poderá originar negócios inovadores, a exemplo do aluguel de carros elétricos para frotas comerciais. As possibilidades são variadas e precisam ser estudadas.

Com os dois táxis em circulação na cidade, Curitiba se junta a Rio de Janeiro e São Paulo, onde os testes com elétricos já ocorrem há mais tempo. Nesses municípios, a parceria é com a japonesa Nissan. Na capital paranaense, com a chinesa BYD, e os automóveis daqui possuem autonomia de 300 quilômetros com uma carga elétrica. O carregamento leva entre uma hora e meia e duas horas, ao valor de R$ 32.

O menor custo para abastecer poderia refletir na diminuição do preço da corrida para os usuários, e o uso da eletricidade geraria benefícios ao meio ambiente, já que se trata de um combustível limpo. Essa combinação de vantagens poderia reforçar o perfil de cidade ecológica e inovadora de Curitiba.

Inovação já traz resultados

Embora a utilização dos táxis seja recente, a cidade já conta com o emprego de outros dez veículos elétricos dentro do Projeto Ecoelétrico. Trata-se de uma parceria entre município, Itaipu Binacional, Aliança Renault-Nissan e CEIIA (Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel) de Portugal.

Esse projeto integra a política de mobilidade urbana sustentável e compreende o uso de cinco veículos Zoe, três Kangoos Z.E. e dois modelos Twizy pela Guarda Municipal, Secretaria de Trânsito (Setran) e Instituto Curitiba de Turismo.

Em nove meses, os elétricos rodaram 40.075 quilômetros e evitaram a emissão de aproximadamente cinco toneladas de CO2. O monitoramento on-line é realizado pelo CEIIA e permite atualizar indicadores como energia elétrica consumida, número de viagens e distâncias percorridas.

Entre junho e agosto de 2014, segundo dados da prefeitura, os veículos movidos a eletricidade consumiram 83% menos que os a gasolina. O total gasto com energia no período foi de R$ 812, contra cerca de R$ 4,6 mil dos que utilizam o derivado de petróleo.

Se 10% da frota fosse composta por carros elétricos, o montante poupado ultrapassaria R$ 180 mil e 96 toneladas de CO2 deixariam de ser emitidas na atmosfera.

Os benefícios da utilização da energia elétrica como combustível são claros e deveriam pautar investimentos em maior escala, tanto privados quanto governamentais. Os números da experiência curitibana estão aí e poderiam servir de exemplo ao Brasil, cuja frota só de automóveis ultrapassa 48 milhões, conforme dados de janeiro do Denatran.

quinta-feira, 5 de março de 2015

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho

No mês em que a revista Sobre Rodas (revistasobrerodas.com.br) dedica sua edição, mais uma vez, e com total merecimento, às mulheres, vale expor aqui uma realidade brasileira que ainda precisa ser modificada: a diferença salarial entre os sexos. Em pleno ano de 2015, persiste a prática de remunerar melhor (e privilegiar) o homem em muitos cargos. Em média, o sexo masculino ganha 30% a mais que o feminino.

Pelo menos essa é a constatação do estudo “Estatísticas de Gênero – Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010”, realizado pelo IBGE em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais e Quilombolas do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Divulgado em outubro de 2014, o levantamento aponta que as mulheres estudam mais, entretanto a formação ocorre em áreas que têm menor remuneração. Também mostra que elas estão mais atuantes no mercado, porém recebem menos que os homens, mesmo tendo aumentado o percentual de mulheres responsáveis pelas famílias e domicílios. Nas áreas urbanas, 39,3% das famílias têm a mulher como responsável. Nos lares em que ela é a chefe (não possui cônjuge mas sustenta os filhos), o índice sobe para 87,4%.

Os números do estudo revelam um avanço na década pesquisada (2000-2010), mas as diferenças perduram. A taxa de atividade profissional subiu de 50,1% para 54,6% entre as mulheres e elas tiveram o maior aumento real do rendimento médio: 12%. Essa é uma conquista importante, contudo ainda percebe-se uma desigualdade, pois o sexo feminino recebe, em média, 68% do que é pago ao sexo masculino.

No ano de 2010, o rendimento médio dos homens era de R$ 1.587; o das mulheres, de R$ 1.074. Segundo o levantamento, a menor diferença foi constatada em cidades com mais de 500 mil habitantes. Em relação às capitais, a desigualdade na remuneração só não diminuiu em Porto Velho (RO) e João Pessoa (PB).

Talvez o dado mais relevante do abismo de gênero seja este: a remuneração média das mulheres pretas ou pardas correspondia a apenas 35% da dos homens brancos (R$ 727 x R$ 2.086). Ou seja, além do fator gênero, os fatores cor e raça também influenciam no salário. Um triplo preconceito!

A diferença entre os sexos é observada ainda entre as faixas etárias. As jovens entre 18 e 24 ganhavam 88% do que era pago aos jovens. No outro extremo, mulheres de 60 anos ou mais tinham rendimento equivalente a 64% do obtido entre os homens na mesma faixa etária.

De acordo com o estudo, em parte as diferenças são explicadas pelo índice de empregadas domésticas e pela menor taxa de formalização feminina no mercado de trabalho. Ironicamente, as mulheres apresentam um nível maior de instrução. Trata-se de um contraste que desvenda uma ultrapassada característica machista da sociedade brasileira.

Embora, por outro lado, esteja crescendo, mas em menor escala, o espaço para as mulheres no comando de empresas e em cargos públicos, o Brasil ainda tem muito a evoluir no combate à discriminação de gênero – assim como em ações contra todo tipo de preconceito que permeia a nação.