quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Afinal, a presidente ou a presidenta?

A eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República suscitou uma dúvida em relação à forma como o substantivo deve ser usado.

Na mídia, alguns veículos utilizam a presidente; outros, a presidenta. Mas qual é a opção correta?

Se você escolheu a primeira, acertou. Se optou pela segunda, também! É isso mesmo, ambas estão certas, e por dois motivos:

1º) Presidente é um substantivo de dois gêneros, masculino e feminino, portanto são válidas as formas “o presidente” e “a presidente”.

2º) Presidenta é uma variação feminina de presidente, perfeitamente aceita e divulgada em bons dicionários.

Veja os exemplos:

• A presidente/presidenta fará seu primeiro pronunciamento após as eleições.

• O Brasil entrou no rol dos países que têm uma mulher presidenta/presidente.

Então, ignore e-mails que circulam pela net dizendo que essa ou aquela forma está errada e não fique mais em dúvida quando ouvir ou ler na imprensa o substantivo presidente referindo-se a Dilma Rousseff ou a qualquer outra mulher chefe de uma nação.

É isso.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A culpa não é de São Pedro, é do poder público

A intensidade de chuvas neste início de ano provocou tragédias jamais vistas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mortos, feridos, desabrigados, desalojados, casas destruídas, ruas alagadas, enxurradas, encostas desmoronadas, buscas, socorro médico, tudo isso compõe um cenário de drama, indignação e solidariedade aos atingidos.

O caos vivido naqueles estados revela que o poder público — nas três esferas de governo — nunca investiu como deveria em infraestrutura pluvial e projetos habitacionais. A máxima de que obra embaixo da terra não dá votos é visível, tamanho o despreparo das ruas em comportar a água das chuvas.

Se as galerias pluviais fossem estruturadas com uma boa margem de segurança, ou seja, capazes de escoar mais que o dobro do que chove mensalmente em determinada cidade, e o número de bueiros fosse suficiente, casas e empresas não teriam sido invadidas.

Já os transbordamentos de rios e os desmoronamentos deixam evidente a omissão dos Executivos em elaborar projetos habitacionais populares. Sem poder alugar, muito menos comprar uma casa, resta para as famílias pobres habitarem margens de rios e morros.

O poder público permite a invasão de áreas de proteção ambiental e a construção de casas em encostas, demonstrando a falta de política social e habitacional direcionada à classe menos favorecida. Agora, depois de uma tragédia de imensa proporção, fala-se em emprestar dinheiro para remover as famílias daquelas áreas ou, pior, coloca-se a culpa em São Pedro — como fizeram o prefeito (democrata) e o governador (tucano) de São Paulo. Pura hipocrisia!

E a imprensa, por que não cobra dos mandatários a falta de obras bem-feitas e projetos habitacionais? Porque nunca cobrou e porque tem o rabo preso, especialmente os grandes veículos de comunicação paulistas — paladinos dos tucanos, no poder municipal e estadual há 16 anos.

O Brasil comprova que suas cidades não estão preparadas para evitar desastres naturais, especialmente por falta de vontade e de preocupação em dotá-las de infraestrutura adequada ao bem-estar do povo. Que essa tragédia sirva de exemplo à população, para cobrar condições dignas de moradia e evitar se estabelecer nas margens de córregos, poluir o meio ambiente, e viver em morros.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As velhas muletas “a nível de” e “no sentido de”


Embora bastante desgastadas, ambas as expressões continuam sendo utilizadas na língua portuguesa. Consideradas muletas, são empregadas mais frequentemente na linguagem oral, como forma de apoio à fala. E o pior, há quem considere bonito ou sofisticado o uso delas.

Além de não recomendadas, podem ser perfeitamente substituídas, inclusive simplificando a frase. Certa vez, ouvi um médico dizer: “A contusão do atleta foi a nível de joelho.” Essa declaração me surpreendeu, tamanha a pretensão de sofisticar a sentença. Na realidade, o uso da expressão tornou a fala complexa. O profissional poderia ter deixado a linguagem rebuscada de lado e dito: “A contusão do atleta foi no joelho.”

O emprego estaria correto somente para fazer referência ao substantivo nível propriamente dito, e mesmo assim a expressão seria ao nível. Acompanhe:

• A cidade fica localizada ao nível do mar.

• O conhecimento repassado pelo professor está ao nível dos alunos.

Outra maneira de se expressar é utilizando em nível (de), porém somente como sinônimo de em âmbito, em abrangência. O ideal é escrever ou falar de forma diferente. Alguns exemplos:

1) A decisão do governo vale em nível (em âmbito) nacional.

A frase poderia ser:

• A decisão do governo vale em todo o Brasil.

2) O plano é desenvolvido em nível de município.

• O plano é desenvolvido no município.

Mais um caso de equívoco aparece na seguinte construção: “Nosso esforço é no sentido de fazer uma sociedade mais justa.” Veja, leitor, como essa oração ficaria mais simples e concisa se a muleta tivesse sido substituída pela preposição para:

• Nosso esforço é para fazer uma sociedade mais justa.

Então, prefira trocar no sentido de por para, com o objetivo de, com o intuito de, com a finalidade de, com vistas a. Em resumo, esqueça as muletas gramaticais, simplifique a oração com o uso de palavras mais simples e adequadas ao contexto da frase.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Recorde ou récorde?

Assim, escrito, parece não haver dúvida sobre qual é a forma correta de grafar esse substantivo, mas por que ele é pronunciado de duas maneiras? A resposta é simples: desconhecimento. E, no caso da imprensa, pelo padrão “intocável” adotado por alguns meios de comunicação e, também, por desconhecimento dos jornalistas.

Para quem tem dúvida, o termo em questão é uma paroxítona, ou seja, a sílaba tônica (forte) é a penúltima. A palavra deve ser pronunciada “recórde”, embora não seja acentuada! Segue a mesma regra de: acorde, recorte, almoce, suporte, recorde (verbo recordar), e demais paroxítonas terminadas com a vogal “e”.

Se a sílaba tônica fosse a primeira, como insistem em pronunciar muitos profissionais da mídia eletrônica (rádios e tevês), a palavra seria uma proparoxítona — e levaria obrigatoriamente o acento, sendo grafada “récorde”. Isso não ocorre, portanto esse termo não existe na língua portuguesa!

Então fica a pergunta: o padrão jornalístico pode sobrepor-se ao nosso idioma? Certamente não! Aqueles que insistem na pronúncia errada do substantivo recorde prestam um desserviço ao seu público, que o assimila equivocadamente. 

Vale lembrar que a exatidão é um dos fatores mais importantes no jornalismo, tanto na apuração quanto na divulgação dos fatos — e aí entra a forma correta de pronunciar um termo.

É isso.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Transição pra lá de histórica

O dia 1º de janeiro de 2011 entrou para a história política brasileira como a data da transição presidencial mais marcante. Luiz Inácio Lula da Silva, ex-metalúrgico e líder sindical, passou a faixa para Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar o posto máximo da República.
Saiu de cena o presidente mais popular e mais bem aprovado que o país já teve, entrou uma pessoa de fibra, competente, com determinação e amor à Pátria demonstrados desde a resistência nos “anos de chumbo”.
Lula se emocionou e, como sempre, foi até o público que lotou as ruas de Brasília. Seu carisma e autenticidade nunca perderam espaço ao longo dos oitos anos de governo. Falar a “língua” do povo e governar para ele o tornaram uma personalidade que jamais cairá no ostracismo político.
Faço minha a célebre frase dele: “Nunca na história deste país” um presidente se igualou em identificação com o seu povo. Ouso dizer que isso jamais se repetirá no Brasil. E mesmo longe do Palácio do Planalto Lula será sempre referência de comprometimento com o trabalhador, com a distribuição de renda, geração de empregos, diminuição drástica da pobreza... Isso tudo aliado a um desenvolvimento econômico-social e a uma credibilidade internacional nunca conquistados pela nação.
Agora a tarefa de comandar esse avanço cabe a Dilma. Seu trabalho foi fundamental no governo Lula, e 56% dos brasileiros reconheceram isso nas urnas, sendo responsáveis por levar ao cargo mais elevado do país, pela primeira vez, uma mulher. Acredito que, pelo menos, parte dos 44% restantes torcerá pelo êxito de sua administração.
Já os oposicionistas mais ferrenhos e a imprensa golpista, que não aceitam um governo popular, devem manter-se na torcida pelo fracasso. Mas esses não contam, são cartas fora do baralho, a quem resta inventar factoides e gralhar por qualquer coisa.
A Lula, o merecido descanso; a Dilma, o início de um governo histórico e, certamente, repleto de sucesso.