quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mãos ao alto, isto é um... pedágio

Concessionárias devem faturar mais de R$ 1 bilhão em um ano


Como já era esperado, e ocorre em todo fim de ano, a Justiça (Justiça?) autorizou o reajuste da tarifa de pedágio no Paraná. Desde esta manhã, os valores cobrados dos motoristas estão 5% mais caros. Assim, quem pretende viajar no período do Natal e do ano-novo deve preparar o bolso.

As concessionárias que exploram o serviço — e principalmente os usuários de rodovias, e como exploram! — são uma mina de ouro, um saco sem fundo de dinheiro ganho para permitir ao cidadão exercer um direito fundamental, previsto na Constituição federal: o de ir e vir.

Nesse caso, se o motorista não tiver o valor da tarifa, é impedido de transpor a barreira, de se locomover, mesmo já pagando impostos específicos para a conservação de estradas, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), embutida no preço da gasolina.

É revoltante constatar que a cada ano as empresas faturam bilhões de reais e não devolvem aos motoristas obras de vulto, como duplicações, viadutos, trincheiras, terceiras faixas. Os trabalhos se limitam a recapes, manutenção e sinalização, por exemplo. E não precisa ser especialista em investimentos para saber que tais aplicações de recursos são mínimas se comparadas ao que se fatura.

O pior é ver todo ano essa sangria no bolso dos usuários de rodovias ficar maior, pois a Justiça permite o reajuste das tarifas, já previsto nos contratos assinados entre as empresas no Paraná e o ex-governador (governador?) Jaime Lerner — o paizão das concessionárias.

Ecocataratas

Aqui no Oeste do estado, a Ecocataratas administra o trecho de Foz do Iguaçu até Guarapuava. São 387,10 quilômetros da BR-277 e 71,84 quilômetros de estradas de acesso, estendidos por 18 municípios. A empresa iniciou as atividades em 1997 e vai explorar o pedágio em suas cinco praças até 2021.

Segundo o site dela, 11 milhões de veículos trafegam pelo trecho de sua responsabilidade, sendo 54% deles para o transporte de cargas — ou seja, caminhões, de diversos tamanhos e vários eixos.

Faturamento

Vamos a um cálculo rápido. Imaginemos que os 46% restantes (5,06 milhões) que transitam de Foz a Guarapuava sejam somente automóveis. Um motorista gastaria, a partir de hoje, R$ 41,70. Se multiplicarmos os cinco milhões pelo total gasto na viagem, teremos a bagatela de R$ 208,5 milhões.

Como todos sabem, caminhonetes e micro-ônibus também têm dois eixos, porém pagam tarifas mais caras, o que elevaria muito o faturamento da empresa. E se calcularmos os 54% que transportam a safra, usando como referência o valor cobrado de caminhões com quatro eixos?

Bem, nesse caso um condutor desembolsaria R$ 138,4 da fronteira a Guarapuava. Esse montante multiplicado pelos 5,94 milhões de caminhões totaliza R$ 822,096 milhões. Mas sabe-se que há caminhões de cinco e até seis eixos, com tarifas mais caras, então a Ecocataratas faturaria muito mais.

Veja, caro leitor, eu considerei os valores mais baixos em cada caso, chegando ao incrível montante de R$ 1.030.596.000 — isso mesmo, a partir desta quarta-feira a Ecocataratas faturaria mais de um bilhão de reais com os exemplos utilizados, no período de um ano.

Agora responda, qual será a contrapartida da empresa? Qual o investimento em obras a ser realizado no mesmo período? Isso, certamente, toda a sociedade gostaria de saber.