terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De novo: "vítima fatal" não existe!

Republico este texto hoje porque vale a pena ressaltar, principalmente nesta época do ano, o erro na utilização de "vítima fatal". Este período de festas e de férias é marcado pelo aumento substancial do número de veículos e — infelizmente — de acidentes nas estradas brasileiras.

Um equívoco comum da imprensa é empregar aquela expressão — que se popularizou e parece normal para o público e até mesmo para alguns colegas jornalistas. Mas é importante destacar que “vítima fatal” não pode ser usada para revelar quantas pessoas morreram em acidentes.

O motivo é simples: fatal é o que provoca o óbito, e a vítima é quem perde a vida. Uma coisa é aquilo que motiva uma morte, outra é a pessoa vitimada. Aí a impossibilidade de se usar a expressão “vítima fatal”.

Então, fatal é um acidente, um atropelamento, uma queda, um choque, um afogamento, um tiro, uma facada, enfim, o fato que matou alguém. Portanto, ao se escrever, por exemplo, “o número de vítimas fatais nas estradas paranaenses aumentou este ano”, fica evidente o erro. O correto seria: “O número de mortes (ou óbitos) nas estradas paranaenses aumentou este ano”.

Outro exemplo: “Duas pessoas foram vítimas fatais do naufrágio do bote”. Uma forma certa poderia ser: “Duas pessoas morreram no naufrágio do bote”. E mais: “O trabalhador foi vítima fatal da própria negligência ao não utilizar equipamentos de segurança”. Essa frase poderia ser: “O trabalhador morreu (ou faleceu) em decorrência de sua própria negligência, ao não utilizar equipamentos de segurança”.

Enfim, o ideal é o autor do texto buscar uma alternativa àquela expressão incorreta. Até porque cabe à imprensa primar pela exatidão em suas informações, seja no momento de apurar o fato e ao divulgá-lo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Argentina dá mais um exemplo de justiça

Em apenas dois dias, a Argentina mostrou ao mundo que lá a Justiça realmente funciona. Ontem e anteontem foram condenadas 20 pessoas acusadas de crimes contra a humanidade durante o regime militar.

Dos condenados, 16 receberam pena de prisão perpétua, e quatro cumprirão 25 anos de cadeia. Um dos militares que passarão o resto da vida preso é o ex-ditador Jorge Videla, de 85 anos, considerado culpado pelo homicídio de opositores e outros crimes contra a humanidade.

O Tribunal Oral Federal Nº 2 de Buenos Aires julgou os réus (militares e policiais) por 181 crimes cometidos em três prisões clandestinas durante o regime — entre os quais mais de cem sequestros, o desaparecimento de 30 mil pessoas, e centenas de assassinatos.

A exemplo de outros países da América Latina que já puniram os militares golpistas, que tomaram o poder à força, praticaram prisões, torturas e homicídios, a Argentina ensina como punir os bandidos travestidos de membros das Forças Armadas e policiais responsáveis pela repressão mais violenta no continente.

O Brasil deveria aprender com as nações vizinhas, mas por aqui se preferiu colocar panos quentes, abafar, ignorar, fazer de conta que nada aconteceu. A Lei da Anistia perdoou os torturadores, assassinos, estupradores, sequestradores, enfim, toda a corja golpista opressora que se instalou no poder em 1964.

Essa omissão é vergonhosa e justifica a crença popular de que a Justiça não funciona no país, exceto contra os pobres — e os (maus) exemplos realmente são tantos, não tendo como contestar a “voz do povo”.

A negligência em relação aos crimes praticados nos “anos de chumbo” rendeu ao Brasil uma recente reprovação na Corte Internacional da Organização dos Estados Americanos (OEA), reunida na Costa Rica. A Corte condenou o país por “passar a mão na cabeça” dos responsáveis pelas 62 mortes ocorridas no Araguaia, durante o regime militar.

Também considerou que a Lei da Anistia brasileira é um obstáculo à apuração dos crimes de tortura, imprescritíveis segundo tratados internacionais que o próprio país assinou.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Parlamentares representam bem seus interesses. E os do povo?


Leitor, alguma vez você já teve seu salário reajustado em “míseros” 61,83%? Eu, certamente, não! Mas os nobres congressistas brasileiros, sim. Na noite de quarta-feira, os deputados se deram esse presente de Natal, ou melhor, de ano novo, já que o reajuste será para 2011.

Em valores, o aumento representa R$ 10,2 mil a mais por mês, pois o salário atual é de “apenas” R$ 16,5 mil e passará a R$ 26,7 mil. Esse é um exemplo imoral e inescrupuloso de como legislar em causa própria. Enquanto muitas categorias profissionais lutam pela reposição inflacionária e um ganho real mínimo a cada ano, os “representantes do povo” aprovam benefícios pessoais descabidos sem qualquer dificuldade.

A remuneração de deputados — e de senadores — deve ser justa, afinal eles deixam seus negócios para morar em Brasília, onde o custo de vida é elevado, e ainda precisam manter casa em suas cidades de origem. O que revolta é o valor do aumento: R$ 10 mil! O que você faria com esse montante? Será que daria para viver bem?

Causa indignação também saber que, além do salário, os nobres parlamentares recebem verba de gabinete, auxílio-moradia, passagens aéreas, auxílio-combustível... Por mês, cada um dos 513 deputados e 81 senadores custa aos contribuintes perto de R$ 100 mil — para trabalhar três dias por semana. Sem mencionar a forma como retribuem o voto da população: com envolvimento em escândalos diversos, por exemplo.

Efeito cascata

A bizarra demonstração de como, literalmente, embolsar o dinheiro do contribuinte será seguida no Brasil todo, já que provocará um efeito cascata. Certamente deputados estaduais também elevarão seus ganhos, o mesmo ocorrendo com vereadores.

E o povo? Bem, o salário mínimo será de R$ 540 em 2011; as categorias profissionais continuarão brigando por aumento real com os sindicatos patronais; os funcionários públicos reivindicarão a mesma coisa ao Poder Executivo... Como sempre haverá negociações desgastantes, e por maior que seja a conquista dificilmente alguém ganhará 10% de reajuste — índice bem inferior aos 61,83% dos deputados federais.

Para o povo brasileiro, 15 de dezembro ficou marcado por mais uma demonstração sórdida de como agem os nobres parlamentares em relação ao que é de interesse deles. E tão lamentável quanto isso foi a declaração do deputado eleito Tiririca, durante visita ao Congresso naquela data: “Cheguei com sorte. Graças a Deus foi aprovado, acho justo. O aumento é legal, é bacana.” Seus 1,3 milhão de eleitores devem ter ficado contentes!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Descaso é pouco para omissão de patrões


Mais de dois meses após a data-base dos jornalistas no Paraná, a Convenção Coletiva de Trabalho 2010/2011 ainda não foi fechada. Não obstante o atraso, o pior é a total falta de consideração dos patrões, que há mais de 30 dias não dão sinais de retomada das negociações.

A intenção deles é renovar — pelo 15º ano seguido — a atual CCT, com inclusão de licença-maternidade de 180 dias. A proposta é novamente repor o percentual de inflação do período, ignorando o aumento real pretendido pela categoria. Para os donos da mídia paranaense, isso é muito, afinal os “barões” já quiseram diminuir 40% do piso no interior.

Felizmente, depois da repercussão negativa e protestos realizados pelos jornalistas do estado, desistiram da ideia — sustentada pelo argumento mesquinho de que a vida fora da capital é mais tranquila, com custo de vida menor, além de outras besteiras egoístas.

O fato é: os proprietários, diretores e puxa-sacos não têm a mínima consideração pela classe responsável pelo êxito de suas empresas. Eles veem os trabalhadores somente como a massa de manobra encarregada de divulgar de forma mascarada seus múltiplos interesses, sem que percam o status de empreendedores de sucesso.

A sociedade precisa saber isso, não se deixando enganar diante da pose de paladinos da democracia sustentada pelos donos da mídia. Na realidade, a classe patronal da comunicação não difere nada dos demais empreendimentos capitalistas. Ou seja: visa ao lucro, explorando a mão de obra sem dar a contrapartida merecida. E o pior é constatar que — na visão míope dela — os jornalistas têm muitas regalias.

Os benefícios garantidos na atual CCT são fruto de uma luta incansável a cada ano, para tentar manter condições dignas de vida. Não fosse o trabalho do nosso sindicato, toda a classe já estaria degradada, com carga horária estendida, piso (teto) rebaixado, sem direito a anuênio e a horas extras remuneradas em 100%.

A ausência de interesse para fechar a Convenção Coletiva 2010/2011 reflete o descaso, o egoísmo, a mesquinhez, a falta de bom senso do patronato, além da justa valorização daqueles que fazem suas empresas faturar mais a cada ano. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os “suseranos” nunca tiveram rendimentos tão altos como nos últimos anos no Paraná.

Na mesa de negociação, seus representantes insistem em propagar uma falsa crise, a diminuição de receitas, elevação de custos, entre outros argumentos que não passam de falácias para tentar ludibriar nossa categoria e massacrar os jornalistas. Pura balela!

Isso faz os profissionais do estado, orientados pelo sindicato, manterem os protestos, a união e, principalmente, a dignidade refutando as esmolas patronais e lutando em prol de melhores condições de trabalho e de remuneração. E é assim mesmo que deve ser!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

A enquete postada no blog revelou que a maioria dos leitores ainda tem dúvidas em relação ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.  Por isso republico hoje o texto explicando todas as mudanças. Se alguém precisar de mais esclarecimentos, basta perguntar que terei o máximo prazer em responder.

ALFABETO

Foram reintroduzidas as letras k, w e y no alfabeto, que passa a ter 26 letras.
O alfabeto completo passa a ser: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z.

TREMA

O sinal gráfico indicador de trema (¨) deixa de ser usado sobre a letra u. Ele só se mantém em palavras estrangeiras e suas formas derivadas.

Exemplos: tranqüilo passa a se grafar tranquilo; qüinqüênio se escreve quinquênio; lingüiça linguiça; sagüisagui. Entretanto o trema se mantém em Müller, mülleriano...

ACENTUAÇÃO

• Palavras paroxítonas formadas pelos ditongos abertos éi e ói perdem o acento agudo.

Exemplos: alcatéiaalcateia; apóiaapoia; bóiaboia; colméiacolmeia; geléiageleia; jóiajoia; platéiaplateia; paranóicoparanoico.

Paroxítonas com i e u tônicos após um ditongo também deixam de ser acentuadas.

Exemplos: bocaiúvabocaiuva; feiúrafeiura.

• Não se utiliza mais o acento circunflexo em palavras terminadas em êem e ôo(s).

Exemplos: abençôoabençoo; crêemcreem; enjôoenjoo; lêem — leem; perdôoperdoo; vêemveem; vôovoo; zôozoo.

• O acento diferencial deixa de ser usado em pares como: pára/para; péla/pela; pêlo/pelo; pólo/polo; pêra/pera.

Exemplos: A mulher pára de lerA mulher para de ler; Os pesquisadores foram ao Pólo NorteOs pesquisadores foram ao Polo Norte; Alice gosta de pêraAlice gosta de pera; O cão tem pêlos longosO cão tem pelos longos.

Exceções:

O acento diferencial permanece para distinguir o pretérito perfeito do verbo poder (pôde) do presente do indicativo (pode).

Exemplo: O estudante não pôde fazer a lição ontem, mas hoje ele pode.

— Também é mantido o acento para diferenciar o verbo pôr da preposição por.

Exemplo: O pai vai pôr a fralda no bebê; Ela faz tudo por ele.

— Os verbos ter e vir permanecem acentuados para distinguir o singular e o plural. O mesmo ocorre com seus derivados, como manter, reter, intervir, conter, convir...

Exemplos: Amanhã, Simone tem prova; Os atletas têm de treinar muito; No verão, o vento mantém a temperatura mais amena; A chuva e o frio mantêm as pessoas em casa.

— Passa a ser facultativo o acento circunflexo para diferenciar as palavras forma e fôrma.

• Não é mais usado o acento agudo no u tônico das formas tu, ele e eles dos verbos arguir e redarguir.

• Verbos terminados em guar, quar e quir se forem pronunciados com a ou i tônico levam acento.

Exemplo: verbo enxaguar — enxáguo, enxáguas, enxáguam, enxágue, enxágues, enxáguem; verbo delinquir — delínquo, delínques, delínque, delínquem, delínqua, delínquas, delínquam.

Exceção: quando pronunciadas com u tônico, essas formas não recebem acento.
Exemplo:  enxaguo, enxaguas, enxaguem, delinquo, delinquem, delinquam.

HÍFEN

• Com prefixos, o hífen é utilizado sempre diante da palavra iniciada por h.

Exemplos: anti-higiênico, co-herdeiro, mini-hotel, sobre-humano, super-homem.

Exceção: subumano.

• Não se utiliza hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal que inicia o termo seguinte.

Exemplos: agroindústria, antiaéreo, antieducativo, autoescola, coautor, extraescolar, infraestrutura, semiextensivo, semianalfabeto.

• O hífen também não é usado quando o prefixo termina em vogal e o segundo termo começa por consoante diferente de r e s.

Exemplos: anteprojeto, autopeça, coprodução, pseudomédico, seminovo, ultramoderno.

Exceção: o hífen é utilizado sempre com o prefixo vice.

• Quando o prefixo terminar em vogal e o elemento seguinte começar por r e s, não se usa hífen; apenas são duplicadas essas letras.

Exemplos: antirrábica, antirrugas, antissocial, biorritmo, contrarregra, cosseno, microssistem, minissaia, neorrealismo, semirreta, ultrassom.

• Utiliza-se o hífen quando o prefixo terminar por vogal e o segundo elemento iniciar pela mesma vogal.

Exemplos: anti-inflamatório, anti-inflação, auto-observação, contra-almirante, contra-ataque, micro-ondas, micro-ônibus, semi-internato.

Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando esse se inicia por o: coobrigar, coordenar, cooperar, cooptar...

• Se o prefixo terminar com consoante e o elemento seguinte começar pela mesma consoante, também se usa o hífen.

Exemplos: hiper-rápido, inter-regional, sub-base, super-ríspido, super-resistente.

— Nos demais casos, não se utiliza o hífen. Exemplos: hipercaro, interpaíses, superamigo, superveloz.

— Com o prefixo sub, o hífen também é usado antes de termo iniciado por r. Exemplo: sub-raça.

— Com os prefixos circum e pan, usa-se hífen antes de palavras iniciadas por m, n e vogal. Exemplos: circum-navegação, pan-nacional, pan-americano.

• Se o prefixo terminar por consoante e o termo seguinte iniciar por vogal, não se usa hífen.

Exemplos: hiperativo, interestadual, superinteressante, supereconômico.

• O hífen é usado sempre com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré e pró.

• Utiliza-se hífen com os sufixos de origem tupi-guarani.

Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

• Não se usa hífen em palavras que perderam a noção de composição.

Exemplos: mandachuva, paraquedas, pontapé.

• Se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte.

Exemplos: Ontem, dizia-
                 -se que iria chover.

                  O bem-te-
                  -vi voa muito rápido.

• Palavras compostas ligadas por conectivos (a, e, de, que, com, sem...) só mantêm o hífen se referentes à botânica ou zoologia.

Exemplos: banana-da-terra, bem-te-vi, boca-de-leão, castanha-do-pará, cedro-do-líbano, copo-de-leite, canário-do-reino, erva-de-passarinho, espada-de-são-jorge, joão-de-barro,maria-sem-vergonha, pimenta-do-reino, tigre-de-bengala, urubu-rei.

Nos demais casos, o hífen não é utilizado:

Veja: dia a dia, pé de moleque, corpo a corpo, passo a passo, cavalo de pau, disse que disse, leva e traz, faz de conta, feijão com arroz, ir e vir, lua de mel, maria vai com as outras, mestre de cerimônias, mestre de obras, mão de obra, olho de sogra, olho da rua, pão de ló, pai de santo, pau de sebo, pau de arara, pé de vento, pé de valsa, ponto de venda, preto e branco, rabo de cavalo, rabo de saia, salve se quem puder, testa de ferro, vira e mexe...

Atenção: Nos substantivos compostos sem conectivo, o sinal deve ser mantido — inclusive nos de procedência. Acompanhe alguns casos: algodão-doce, bem-apessoado, caminhão-pipa, desmancha-prazer, editor-chefe, fórmula-grama, guarda-roupa, hotel-fazenda, lesa-pátria, mato-grossense-do-sul, rio-grandense-do-norte, navio-petroleiro, ordem-unida, papel-alumínio, quartel-general, recém-nascido, saia-justa, terceiro-mundista, verde-musgo, zero-quilômetro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mãos ao alto, isto é um... pedágio

Concessionárias devem faturar mais de R$ 1 bilhão em um ano


Como já era esperado, e ocorre em todo fim de ano, a Justiça (Justiça?) autorizou o reajuste da tarifa de pedágio no Paraná. Desde esta manhã, os valores cobrados dos motoristas estão 5% mais caros. Assim, quem pretende viajar no período do Natal e do ano-novo deve preparar o bolso.

As concessionárias que exploram o serviço — e principalmente os usuários de rodovias, e como exploram! — são uma mina de ouro, um saco sem fundo de dinheiro ganho para permitir ao cidadão exercer um direito fundamental, previsto na Constituição federal: o de ir e vir.

Nesse caso, se o motorista não tiver o valor da tarifa, é impedido de transpor a barreira, de se locomover, mesmo já pagando impostos específicos para a conservação de estradas, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), embutida no preço da gasolina.

É revoltante constatar que a cada ano as empresas faturam bilhões de reais e não devolvem aos motoristas obras de vulto, como duplicações, viadutos, trincheiras, terceiras faixas. Os trabalhos se limitam a recapes, manutenção e sinalização, por exemplo. E não precisa ser especialista em investimentos para saber que tais aplicações de recursos são mínimas se comparadas ao que se fatura.

O pior é ver todo ano essa sangria no bolso dos usuários de rodovias ficar maior, pois a Justiça permite o reajuste das tarifas, já previsto nos contratos assinados entre as empresas no Paraná e o ex-governador (governador?) Jaime Lerner — o paizão das concessionárias.

Ecocataratas

Aqui no Oeste do estado, a Ecocataratas administra o trecho de Foz do Iguaçu até Guarapuava. São 387,10 quilômetros da BR-277 e 71,84 quilômetros de estradas de acesso, estendidos por 18 municípios. A empresa iniciou as atividades em 1997 e vai explorar o pedágio em suas cinco praças até 2021.

Segundo o site dela, 11 milhões de veículos trafegam pelo trecho de sua responsabilidade, sendo 54% deles para o transporte de cargas — ou seja, caminhões, de diversos tamanhos e vários eixos.

Faturamento

Vamos a um cálculo rápido. Imaginemos que os 46% restantes (5,06 milhões) que transitam de Foz a Guarapuava sejam somente automóveis. Um motorista gastaria, a partir de hoje, R$ 41,70. Se multiplicarmos os cinco milhões pelo total gasto na viagem, teremos a bagatela de R$ 208,5 milhões.

Como todos sabem, caminhonetes e micro-ônibus também têm dois eixos, porém pagam tarifas mais caras, o que elevaria muito o faturamento da empresa. E se calcularmos os 54% que transportam a safra, usando como referência o valor cobrado de caminhões com quatro eixos?

Bem, nesse caso um condutor desembolsaria R$ 138,4 da fronteira a Guarapuava. Esse montante multiplicado pelos 5,94 milhões de caminhões totaliza R$ 822,096 milhões. Mas sabe-se que há caminhões de cinco e até seis eixos, com tarifas mais caras, então a Ecocataratas faturaria muito mais.

Veja, caro leitor, eu considerei os valores mais baixos em cada caso, chegando ao incrível montante de R$ 1.030.596.000 — isso mesmo, a partir desta quarta-feira a Ecocataratas faturaria mais de um bilhão de reais com os exemplos utilizados, no período de um ano.

Agora responda, qual será a contrapartida da empresa? Qual o investimento em obras a ser realizado no mesmo período? Isso, certamente, toda a sociedade gostaria de saber.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tortura no Brasil era corriqueira, diz militar acusado dessa prática

A vida está boa para Maurício Lopes Lima, morador da Praia das Astúrias, no Guarujá, litoral do estado de São Paulo. É lá que o tenente-coronel reformado do Exército gasta seu polpudo soldo e curte a paisagem bonita e calma.

Nada contra quem tem essa possibilidade, mas tudo contra a impunidade. Lima é acusado pelo Ministério Público Federal de ter participado da morte de seis presos políticos e ter torturado 20 pessoas durante a ditadura no Brasil — entre suas vítimas, a presidente Dilma Rousseff.

O militar foi localizado pelo repórter Ricardo Galhardo, do Portal IG, e disse que as práticas desumanas nos porões do DOI-CODI eram “corriqueiras”. Embora a ação pública tenha como base 39 documentos, inclusive com o depoimento de Dilma e do frade dominicano Tito de Alencar Lima, o frei Tito, reconhecendo Lima como torturador, ele negou todas as acusações. E ainda foi irônico ao comentar: “Se soubesse naquela época que ela seria presidenta teria pedido: ‘Anota meu nome aí. Eu sou bonzinho’.”

Ainda no texto, publicado na segunda-feira, Galhardo relata um trecho do depoimento de frei Tito, que diz na ação do MP: “O capitão Maurício veio buscar-me em companhia de dois policiais e disse-me: ‘Você agora vai conhecer a sucursal do inferno’.” E lá teria sido agredido com tapas nas orelhas, recebido choques elétricos, e apanhado de outras formas.

Esses e outros militares acusados de torturar, assassinar e ocultar cadáveres, entre outros crimes, vivem tranquilamente, como se nada tivesse ocorrido, enquanto centenas de famílias e amigos de presos políticos ainda sofrem com as crueldades cometidas no período da ditadura e com a falta daqueles que estão desaparecidos até hoje.

O Brasil está na contramão do que ocorre em outros países sul-americanos, os quais punem os bandidos do regime militar. Aqui a Lei da Anistia fez um desfavor à sociedade, perdoando os golpistas criminosos, perseguidores, assassinos... E eles vivem bem, negando as acusações, defendendo o golpe de 64, e fazendo piadinhas, como no caso de Maurício Lopes Lima. Isso é revoltante!

Leia a matéria e a entrevista no: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/acusado+de+torturar+dilma+leva+vida+tranquila+no+guaruja/n1237841186503.html

sábado, 27 de novembro de 2010

À medida que, à proporção que, ao passo que

Estas três locuções conjuntivas têm como finalidade ligar duas ou mais sentenças, indicando relação proporcional entre elas. É necessário destacar que não apresentam a preposição “em”, ou seja, nunca escreva ou fale: à medida em que, à proporção em que, ao passo em que.

Veja um exemplo correto:

• O aprimoramento profissional ocorre à medida que os anos passam.

Essa frase poderia ser escrita ainda com as outras duas locuções conjuntivas:

• O aprimoramento profissional ocorre ao passo que os anos passam.

• O aprimoramento profissional ocorre à proporção que os anos passam.

Mas preste atenção: a conjunção à medida que não deve ser confundida com na medida em que. Essa também é uma locução conjuntiva, porém causal — nada tem a ver com a proporcional, pois indica relação de causa/consequência ou efeito.

Para saber quando empregá-la basta substituí-la por: porque, visto que, já que, uma vez que, tendo em vista que.

Acompanhe:

• A reunião foi cancelada na medida em que (porque/visto que/já que...) quase ninguém compareceu.

• Você poderá escolher onde trabalhar na medida em que (uma vez que/tendo em vista que...) foi o primeiro colocado no concurso.

Então não confunda à medida que (proporção) e na medida em que (causa/consequência).

É isso.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Momento de pôr ordem na casa

O Rio de Janeiro vive dias de cão. Tiroteio, feridos, mortos, veículos queimados, confusão, medo... Conhecido mundialmente como a “Cidade Maravilhosa”, o atual cenário nada tem a ver com sua fama e preocupa não apenas a população local, mas turistas, autoridades brasileiras e todos que estimam a paz e a ordem social.

Após o início do terror espalhado pelos traficantes com os incêndios em carros e ônibus, o governo estadual começou uma ação repressiva em massa. E isso realmente é necessário, afinal não se pode tolerar que os traficantes tomem as ruas e aterrorizem a população.

Esses criminosos estão perdendo seus territórios nos morros, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora. As UPPs marcam a presença do Estado nas comunidades antes controladas pelos traficantes, o que desorganiza e traz prejuízos financeiros às quadrilhas. Desesperados, os bandidos respondem com ataques à sociedade.

Por isso o efetivo policial foi reforçado e ocupou a cidade, principalmente o atual reduto dos bandidos, a Vila Cruzeiro. Mais de 40 traficantes foram presos; toneladas de drogas e muitas armas acabaram tiradas de circulação. E esse trabalho duro deve prosseguir; é hora de mostrar que a ação repressiva do Estado é eficaz.

Infelizmente os atos criminosos não cessarão repentinamente, da noite para o dia. Entretanto se o atual trabalho deixar de ser realizado, as investidas das quadrilhas ganharão força. A polícia não pode recuar, deve fortalecer sua estrutura e suas atividades, como ocorre com a cessão de equipamentos pela Marinha.

A Força Nacional de Segurança também deveria ser empregada para fortalecer a repressão, pois é urgente restabelecer o clima de segurança. O cidadão, a cidade, turistas, o país, ninguém merece ficar refém da criminalidade, sentir medo nas ruas, alterar sua rotina devido a ações terroristas de traficantes que pensam ser donos do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tem problema com a Justiça? Ligue pro Gilmar!

Que a Justiça no Brasil é lenta e deixa a desejar, todo mundo sabe. Que ela beneficia os ricos, também! E o maior exemplo vem da mais alta côrte nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente na pessoa do ministro Gilmar Mendes.

Ontem saiu a sentença do médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de reclusão por estupro e atentado violento ao pudor. Na teoria, uma pena severa, apropriada diante da monstruosidade que ele cometia com suas pacientes. Mas, na prática, abrandada por alguns fatores que — embora totalmente legais — reforçam a ideia de que a Justiça no Brasil é aplicada com mais rigor aos pobres.

O principal é que o médico, cujo registro profissional foi cassado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, responderá em liberdade e poderá permanecer assim até esgotar a possibilidade de seus advogados recorrerem — podendo levar anos.
Um exemplo clássico dessa benevolência da Justiça com quem tem dinheiro e influência é o caso do jornalista Pimenta Neves, assassino confesso da ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, ainda livre apesar de ter sido condenado a 15 anos de reclusão.

Embora tenha ficado preso entre 17 de agosto e 24 de dezembro do ano passado, Roger Abdelmassih foi posto em liberdade por determinação do ministro Gilmar Mendes, do STF. Para quem não lembra, Mendes adora intervir a favor de ricos envolvidos em casos de repercussão nacional.

Ele foi o responsável pelos dois habeas corpus favoráveis ao banqueiro Daniel Dantas, preso duas vezes por ordem judicial após a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008. Mendes também foi o defensor no STF da dispensa do diploma para exercer o jornalismo. Ah, e é ainda aquele quem o colega ministro Joaquim Barbosa acusou de envergonhar a Justiça brasileira.

Então como acreditar no Judiciário? Como não pensar que ele pune mais rigorosamente os pobres, sem recursos financeiros para pagar advogados até um processo ser julgado em última instância?

Por tudo isso, nada melhor que ser amigo do Gilmar Mendes. Assim, diante de alguma “bronca”, basta ligar pra ele ou impetrar um pedido de habeas corpus quando o ministro estiver de plantão no STF!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O preconceito me enoja

Daqui a 40 dias termina o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário a governar o Brasil. Após oito anos de um bom governo, e com a popularidade jamais alcançada por outro chefe do Executivo nacional, é lamentável saber que o preconceito contra ele ainda permeia a sociedade.

Este texto surgiu de minha indignação ao presenciar uma conversa de três senhores hoje pela manhã em uma padaria. Numa mesa próxima a que eu estava, eles conversavam sobre o país, mais precisamente a respeito da continuidade do PT na Presidência. O amargor de oposicionistas derrotados era notório. Mesmo discordando das opiniões emitidas, respeito a visão alheia, afinal vivemos uma democracia.

Em determinado momento, um dos senhores comentou: “Me parece que Dilma é mais inteligente que o Lula”. Em seguida, outro disse: “Bom, mas isso não é muito difícil”. Ao ouvir essa declaração preconceituosa, emiti um riso de canto de boca e quase me intrometi na conversa para dizer poucas e boas àquele sujeito. Mas segurei meu ímpeto a pedido de minha esposa.

Defendo que as pessoas possam emitir livremente suas opiniões, como garante a Constituição federal, porém o preconceito — seja ele qual for — me enoja. Quando escutei aquela frase, pensei: “Queria ver você lá na Presidência, se teria a capacidade de governar um país”. Fiquei convencido de que quem traz dentro de si o preconceito contra um operário nordestino, ex-líder sindical, é limitado o bastante para reconhecer os avanços nos últimos oito anos.

Felizmente indivíduos assim são a minoria, pois ser oposicionista — mesmo os ainda inconformados com a recente derrota na campanha presidencial — não significa ter o direito de desqualificar adversários de forma preconceituosa; principalmente se a referência for a um presidente respeitado fora do país, inclusive por chefes de nações mais desenvolvidas, e que no Brasil encerra seu mandato com mais de 80% de aprovação entre a população como um todo, não somente no estrato social menos politizado ou mais pobre.

Abaixo qualquer manifestação rancorosa, preconceituosa!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

BlogBlogs.Com.Br

Concordância verbal em frases com porcentagem


Até alguns dias atrás, na época das eleições, a mídia divulgava pesquisas de intenção de voto. Nelas eram apontados os índices dos candidatos, de votos nulos e brancos e de eleitores indecisos. Resultados à parte, meu objetivo é tratar da concordância verbal em sentenças que apresentam porcentagem.

Nos exemplos a seguir, qual das opções é a correta?

• A pesquisa apontou que 10% do eleitorado estão indecisos.

• A pesquisa apontou que 10% do eleitorado está indeciso.

Se você respondeu a segunda, acertou. O motivo é simples: em frases com porcentagem, a concordância é feita com o termo mais próximo após o numeral. Se ele estiver no singular, o verbo não se flexionará. No exemplo, “eleitorado”.

E se a palavra que acompanha o numeral fosse “eleitores? Nesse caso haveria a flexão:

• A pesquisa apontou que 10% dos eleitores estão indecisos.

O verbo também permaneceria no plural caso a porcentagem não viesse seguida do especificador (eleitorado ou eleitores):

• A pesquisa apontou que 10% estão indecisos.

Vamos a outro exemplo:

• Segundo informou o sindicato, 60% da frota está parada.  

• Segundo informou o sindicato, 60% dos ônibus estão parados. 

• Dos ônibus da frota, 60% estão parados. 

Se não houver especificador, o verbo posposto ao numeral não se flexionará caso a porcentagem seja inferior a 2%. Se ela atingir esse índice, haverá a flexão.

• Somente 1% afirmou que não votaria em nenhum dos candidatos.

• Dos eleitores consultados, 1,9% disse preferir anular o voto.

• De acordo com a pesquisa, 2% votariam em branco.

É isso. Até mais.